Pioneira no
Rock, a Rádio Federal AM faria 45 anos
Quem me informa é o amigo Marcos Kilzer. Neste 2015 a Rádio Federal AM
estaria fazendo 45 anos de vida. Dirigida por Carlos Sigelmann foi a primeira rádio de Rock da América
Latina e foi no final de 1972 que
comecei a trabalhar nela como estagiário e depois programador.
É enorme a minha gratidão por aquela emissora plantada no
décimo andar do Edifício Brasília, rua da Conceição 99, epicentro de Niterói. Eu tinha 17 anos, era infernalmente
cabeludo, já trabalhava em
jornal, ouvia a Rádio Federal o dia todo com meu irmão Fernando César,
meugrande amigo Marcio Paulo Maia
Tavares e com as namoradas. Como a rádio tinha apenas
250 watts de potência (um quarto de kilowatt – para vocês terem uma ideia, na
época a também lendária rádio Mundial transmitia com 100 kilowatts, ou 100 mil
watts), era difícil ouvir a Federal. Mas, colocando Bombril em antenas de
receptores, íamos ouvindo, mesmo com chiados, mesmo com constantes tombos na
transmissão.
Um belo dia, ouvi a chamada de uma promoção. “Mande para a
Rádio Federal o roteiro de um programa de rock com a sua banda preferida. O
melhor programa do mês dará direito a um cachê”. Fiz um programa sobre The Who
que, modéstia à parte, ficou bem legal e mandei para lá, para o tal “Verão 73” nome do programa que a
rádio estava fazendo.
Para a minha surpresa ganhei como o melhor programa do mês
e, logicamente, fui voando até a rádio. Sentei com Marcos Kilzer e Jorge
Davidson (coordenadores de programação da emissora) e propus: em vez do cachê
preferia um estágio como programador da rádio. Eles toparam e comecei a
trabalhar.
Aquele estágio, que acabou se transformando em
contratação, foi mais importante do que toda a faculdade de Comunicação que
comecei em 75. A
rádio Federal tinha, por baixo, 10 mil LPs de vinil. Foi lá que conheci Neu,
Can, Amon Duul, Faust, Mott The Hoople, Wishbone Ash, O Terço, Karma, Veludo.
Vi quando Ney Matogrosso, em pessoa, entregou a Marcos Kilzer uma fita de rolo
com o primeiro e bombástico disco do Secos & Molhados. Graças a Rádio
Federal percebi que a música não tem limites e grandes nomes como o alemão
Tangerine Dream, o inglês Badger e muitos outros começaram a me tratar com intimidade
e eu a eles.
Trabalhando duro, da manhã a noite, acabei conhecendo
profundamente o Genesis, o Yes, Emerson, Lake and Palmer, mais o Knife, Van Der
Graff Generator, Slade, enfim, nomes que entraram para o meu cardápio pessoal e
não saíram até hoje.
Quem me apresentou a essa nova cultura foram o Marcos e Jorge, e eles sabem disso.
Mas, sobretudo, sou grato a um saudoso discotecário da rádio, Manoelino Barbosa, que muito me ajudou. O rosto dele,
muito parecido com aqueles negros blueseiros do Mississippi, está vivo em minhas lembranças.
Tudo ia muito bem na Federal, que pertencia a Bloch
Editores. Até o dia que cheguei para trabalhar e o ambiente parecia o de um
velório. O discotecário disse que “por ordem do Russel (rua do Russel, onde ficava a sede da Bloch) a Federal
passaria a ser rádio popular”, apesar de estar em quinto lugar na Zona Sul do
Rio, com ¼ de kilowatt. Vi Paulo Bob entrar e (o cara não tinha nada com isso,
coitado) e matar a primeira rádio de Rock da nação.
Jururú, sai andando pelo centro de Niterói. A Federal
funcionava num daqueles edifícios que amontoavam estranhos consultórios,
puteiros e algumas repartições públicas, na rua da Conceição 99, edifício
Brasília. A rádio ocupava o 10º. e 11º. andares. Triste pra cacete, acreditei
naquele sonho. Vi o Kilzer e o Davidson arrasados, mas me bateu a certeza de
que aquele sonho voltaria.
Big Boy já
havia inventado a Eldo Pop que
durou até a sua morte, em março de 1977. A Eldo foi substituída pela boçalidade da
98 FM. Mas o sonho seria outro: a Rádio Fluminense FM, que veio ao mundo em 1º.
de março de 1982.
Hoje, 45 anos depois, não existem mais a Federal nem Eldo
Pop, nem Fluminense, nem Mundial...mas existe a internet e um bilhão de
possibilidades.
Esclarecimento
sobre “Porque detesto disco de vinil...”
Anteontem publiquei aqui o artigo “Porque detesto
disco de vinil, aquele porco redondo”explicando o que me fez romper
com esse tipo de mídia. Várias pessoas se manifestaram, a maioria
equivocadamente.
Para começar publicaram mensagens anônimas ali nos
Comentários o que me impediu de publicá-las. Muitos fizeram comparações entre a
qualidade do som dos discos de vinil em relação ao CD tema que não foi incluído
em meu artigo, que vocês podem reler emhttp://colunadolam.blogspot.com.br/2015/10/porque-detesto-disco-de-vinil-aquele.html
As questões que levantei são referentes a arranhões,
estalos, complicações operacionais em emissoras de rádio mas em momento algum
comparei o som das chamadas bolachas com o do CD. Mesmo porque acho que quando
os primeiros compac discs saíram em formato AAD e ADD havia, sim, uma enorme
diferença de som, principalmente a ausência de graves. Mas quando começaram a
lançar em DDD tudo ficou igual.
Por isso grandes produtores só permitem que obras
originalmente lançadas em vinil sejam transformadas em CD através de um
processo de remixem (digital) extremamente bem feito. Quando a gravadora
Atlantic lançou os primeiros CDs do Led Zeppelin, Jimmy Page ficou furioso, foi
lá e embargou tudo. Os CDs foram recolhidos e ele mesmo, Page, fez uma nova
edição específica que foi (e ainda é) um sucesso.
Quando escrevi que aprecio os colecionadores de vinil e fiz
comparações com quem gosta de comprar leques e por na parede não estava
debochando. Tenho uma amiga que adora, sua casa tem leques chineses,
vietnamitas, paraguaios espalhados pela casa e eu achava o maior barato.
Inclusive numa noite, sem que ela visse, retirei um (afegão), abri e cocei as
costas. Adorei.
Coleção de carros? Adoraria ter uma. Se fosse um
trilhardário teria uma casa em
Santa Mônica , Califórnia, maior terrenão gramado e ao fundo
um mega galpão. De manhã ia tomar café lá fora e mandava tirar da garagem, quem
sabe, um Porsche 911 1970, um Mustang 1965, vários Volvos, três ou quatro
Karmann Ghia, Ferraris, Land Rovers só para ficar contemplando. No dia
seguinte, uma nova leva já que, neste caso, eu teria uns 300 carros. Por que?
Porque adoro carros.
Guitarras e contrabaixos? Dezenas. Minha coleção ficaria
numa parede imensa, num lugar com equipamentos de museu para preservar as
Gibson, Fender, Rickenbacker, Daneletro etc, num salão próximo a coleção de
galos de briga, canários belga e roller, peixes Betta (de luta) e, lógico,
cachorros. Sim, a casa seria a maior de Santa Monica.
Basicamente minha opinião continua a mesa: disco de vinil é
uma bosta. Mas peço que leiam minhas razões no artigo anterior. Sim, adoro o CD
e, como Neil Young, execro o MP3, que achata o som, capa graves, agudos,
médios, capa tudo. Espero que o player Ponomusic desenvolvido por Young seja
popularizado e espero mais ainda que as webradios dêem um jeito de substituir o
MP3 por algo semelhante ao Wave que, todo mundo sabe, por ser 50000000000%
melhor oupa 50000000000000000000% mais espaço.
É isso aí.
Porque detesto
disco de vinil, aquele porco redondo
Em novembro vai rolar a 15a. Feira de Discos de
Vinil do Rio de Janeiro. Dizem os apaixonados que é a maior e melhor do gênero.
Recebi o convite de uma amiga logo de manhã e educadamente respondi dizendo que
não vou. Ponto.
Respeito muitíssimo os apaixonados pelo vinil e também os
que cultuam leques na parede, coleção de corujas de porcelana, carros antigos,
revistinhas de sacanagem, enfim, não me meto na vida de ninguém. No entanto,
confesso aqui o hediondo e absoluto horror que nutro pelo vinil desde que
comecei a ouvir música. Tanto que quando saiu o CD (para mim a melhor de todas
as mídias), dois anos depois doei todos os meus dois mil e varada LPs para uma
instituição de caridade. Me livrei de um fardo que me perseguia. Os poucos que
sobraram derreti e transformei em cinzeiro, que dei de presente aos amigos.
Como princesa Isabel, o CD me libertou da senzala. Senzala
que me obrigava a ouvir música ao som de “clac, clac, clac” ou faixas que
agarravam ou pulavam, agulhas que acabavam no meio da madrugada me deixando na
mão, mofo, fedor. Os importados, mais pesados, eram menos problemáticos, mas
muitos nacionais pareciam tampa de privada. Lembro de um disco do Nektar que
simplesmente veio sem os graves. O primeiro lote chegou a ser recolhido porque
deu um problema no azimute (toc, toc, toc na madeira) e a tal leva saiu
bichada.
Quando comecei a trabalhar em rádio aos 16 anos de idade
vi que não estava só. Os operadores de áudio odiavam o vinil porque ele
“derrubava” os profissionais no ar. Faixas agarravam, ou o braço do toca discos
sem mais nem menos saia voando sobre o disco causando aquele “vruuuuummm”,
músicas pulavam, problemas que, em geral, causavam punições aos operadores.
Um dos programas mais importantes e sisudos da história do
rádio foi o de música clássica na radio Jornal do Brasil FM. Só musicais de
altíssimo nível, utilizando vinis importados tratados a pão de ló. Numa noite,
um desses discos estava com uma pequena falha de fabricação e no final de um
movimento agarrou. Já vivíamos a era do locutor-operador e ele tinha ido ao
banheiro. O vinil fez o estrago, ficou mais de cinco minutos repetindo o mesmo
trecho e, dias depois, o locutor recebeu a primeira advertência profissional de
sua carreira.
Na Rádio Fluminense FM um disco durava, no máximo, 100
execuções. Depois a introdução das músicas saia com chiado porque para colocar
no ponto as locutoras-operadoras tinham que rodar com a mão o início, para
frente e para trás. Caos. Sem saída, inventei a expressão “reprodução a prego”
para justificar o injustificável. Mais: vi locutoras colocarem moedinhas no
braço do toca discos, sobrar a agulha, enfim, faziam feitiçarias para que
aquela bosta tocasse direito.
E foi assim, derrubando profissionais, enchendo o meu saco
que o vinil, aquele porco redondo saiu de cena (viva!) lá por 1985, dando lugar
ao CD, isso sim uma mídia decente na minha modesta opinião. Desejo a todos uma
ótima feira, desejo que curtam, cultuem, enfim, desejo tudo menos que me
convidem.
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