segunda-feira, 2 de novembro de 2015

RADIO FEDERAL AM - 40 ANOS

Pioneira no Rock, a Rádio Federal AM faria 45 anos



Quem me informa é o amigo Marcos Kilzer. Neste 2015 a Rádio Federal AM estaria fazendo 45 anos de vida. Dirigida por Carlos Sigelmann foi a primeira rádio de Rock da América Latina e foi no final de 1972 que comecei a trabalhar nela como estagiário e depois programador.
É enorme a minha gratidão por aquela emissora plantada no décimo andar do Edifício Brasília, rua da Conceição 99, epicentro de Niterói. Eu tinha 17 anos, era infernalmente cabeludo, já trabalhava em jornal, ouvia a Rádio Federal o dia todo com meu irmão Fernando César, meugrande amigo Marcio Paulo Maia Tavares e com as namoradas. Como a rádio tinha apenas 250 watts de potência (um quarto de kilowatt – para vocês terem uma ideia, na época a também lendária rádio Mundial transmitia com 100 kilowatts, ou 100 mil watts), era difícil ouvir a Federal. Mas, colocando Bombril em antenas de receptores, íamos ouvindo, mesmo com chiados, mesmo com constantes tombos na transmissão.
Um belo dia, ouvi a chamada de uma promoção. “Mande para a Rádio Federal o roteiro de um programa de rock com a sua banda preferida. O melhor programa do mês dará direito a um cachê”. Fiz um programa sobre The Who que, modéstia à parte, ficou bem legal e mandei para lá, para o tal “Verão 73” nome do programa que a rádio estava fazendo.
Para a minha surpresa ganhei como o melhor programa do mês e, logicamente, fui voando até a rádio. Sentei com Marcos Kilzer e Jorge Davidson (coordenadores de programação da emissora) e propus: em vez do cachê preferia um estágio como programador da rádio. Eles toparam e comecei a trabalhar.
Aquele estágio, que acabou se transformando em contratação, foi mais importante do que toda a faculdade de Comunicação que comecei em 75. A rádio Federal tinha, por baixo, 10 mil LPs de vinil. Foi lá que conheci Neu, Can, Amon Duul, Faust, Mott The Hoople, Wishbone Ash, O Terço, Karma, Veludo. Vi quando Ney Matogrosso, em pessoa, entregou a Marcos Kilzer uma fita de rolo com o primeiro e bombástico disco do Secos & Molhados. Graças a Rádio Federal percebi que a música não tem limites e grandes nomes como o alemão Tangerine Dream, o inglês Badger e muitos outros começaram a me tratar com intimidade e eu a eles.
Trabalhando duro, da manhã a noite, acabei conhecendo profundamente o Genesis, o Yes, Emerson, Lake and Palmer, mais o Knife, Van Der Graff Generator, Slade, enfim, nomes que entraram para o meu cardápio pessoal e não saíram até hoje.
Quem me apresentou a essa nova cultura foram o Marcos e Jorge, e eles sabem disso. Mas, sobretudo, sou grato a um saudoso discotecário da rádio, Manoelino Barbosa, que muito me ajudou. O rosto dele, muito parecido com aqueles negros blueseiros do Mississippi, está vivo em minhas lembranças.
Tudo ia muito bem na Federal, que pertencia a Bloch Editores. Até o dia que cheguei para trabalhar e o ambiente parecia o de um velório. O discotecário disse que “por ordem do Russel (rua do Russel, onde ficava a sede da Bloch) a Federal passaria a ser rádio popular”, apesar de estar em quinto lugar na Zona Sul do Rio, com ¼ de kilowatt. Vi Paulo Bob entrar e (o cara não tinha nada com isso, coitado) e matar a primeira rádio de Rock da nação.
Jururú, sai andando pelo centro de Niterói. A Federal funcionava num daqueles edifícios que amontoavam estranhos consultórios, puteiros e algumas repartições públicas, na rua da Conceição 99, edifício Brasília. A rádio ocupava o 10º. e 11º. andares. Triste pra cacete, acreditei naquele sonho. Vi o Kilzer e o Davidson arrasados, mas me bateu a certeza de que aquele sonho voltaria.
Big Boy já havia inventado a Eldo Pop que durou até a sua morte, em março de 1977. A Eldo foi substituída pela boçalidade da 98 FM. Mas o sonho seria outro: a Rádio Fluminense FM, que veio ao mundo em 1º. de março de 1982.
Hoje, 45 anos depois, não existem mais a Federal nem Eldo Pop, nem Fluminense, nem Mundial...mas existe a internet e um bilhão de possibilidades.






Esclarecimento sobre “Porque detesto disco de vinil...”

Anteontem publiquei aqui o artigo “Porque detesto disco de vinil, aquele porco redondo”explicando o que me fez romper com esse tipo de mídia. Várias pessoas se manifestaram, a maioria equivocadamente.

Para começar publicaram mensagens anônimas ali nos Comentários o que me impediu de publicá-las. Muitos fizeram comparações entre a qualidade do som dos discos de vinil em relação ao CD tema que não foi incluído em meu artigo, que vocês podem reler emhttp://colunadolam.blogspot.com.br/2015/10/porque-detesto-disco-de-vinil-aquele.html

As questões que levantei são referentes a arranhões, estalos, complicações operacionais em emissoras de rádio mas em momento algum comparei o som das chamadas bolachas com o do CD. Mesmo porque acho que quando os primeiros compac discs saíram em formato AAD e ADD havia, sim, uma enorme diferença de som, principalmente a ausência de graves. Mas quando começaram a lançar em DDD tudo ficou igual.

Por isso grandes produtores só permitem que obras originalmente lançadas em vinil sejam transformadas em CD através de um processo de remixem (digital) extremamente bem feito. Quando a gravadora Atlantic lançou os primeiros CDs do Led Zeppelin, Jimmy Page ficou furioso, foi lá e embargou tudo. Os CDs foram recolhidos e ele mesmo, Page, fez uma nova edição específica que foi (e ainda é) um sucesso.

Quando escrevi que aprecio os colecionadores de vinil e fiz comparações com quem gosta de comprar leques e por na parede não estava debochando. Tenho uma amiga que adora, sua casa tem leques chineses, vietnamitas, paraguaios espalhados pela casa e eu achava o maior barato. Inclusive numa noite, sem que ela visse, retirei um (afegão), abri e cocei as costas. Adorei.

Coleção de carros? Adoraria ter uma. Se fosse um trilhardário teria uma casa em Santa Mônica, Califórnia, maior terrenão gramado e ao fundo um mega galpão. De manhã ia tomar café lá fora e mandava tirar da garagem, quem sabe, um Porsche 911 1970, um Mustang 1965, vários Volvos, três ou quatro Karmann Ghia, Ferraris, Land Rovers só para ficar contemplando. No dia seguinte, uma nova leva já que, neste caso, eu teria uns 300 carros. Por que? Porque adoro carros.

Guitarras e contrabaixos? Dezenas. Minha coleção ficaria numa parede imensa, num lugar com equipamentos de museu para preservar as Gibson, Fender, Rickenbacker, Daneletro etc, num salão próximo a coleção de galos de briga, canários belga e roller, peixes Betta (de luta) e, lógico, cachorros. Sim, a casa seria a maior de Santa Monica.

Basicamente minha opinião continua a mesa: disco de vinil é uma bosta. Mas peço que leiam minhas razões no artigo anterior. Sim, adoro o CD e, como Neil Young, execro o MP3, que achata o som, capa graves, agudos, médios, capa tudo. Espero que o player Ponomusic desenvolvido por Young seja popularizado e espero mais ainda que as webradios dêem um jeito de substituir o MP3 por algo semelhante ao Wave que, todo mundo sabe, por ser 50000000000% melhor oupa 50000000000000000000% mais espaço.

É isso aí.









Porque detesto disco de vinil, aquele porco redondo

Em novembro vai rolar a 15a. Feira de Discos de Vinil do Rio de Janeiro. Dizem os apaixonados que é a maior e melhor do gênero. Recebi o convite de uma amiga logo de manhã e educadamente respondi dizendo que não vou. Ponto.

Respeito muitíssimo os apaixonados pelo vinil e também os que cultuam leques na parede, coleção de corujas de porcelana, carros antigos, revistinhas de sacanagem, enfim, não me meto na vida de ninguém. No entanto, confesso aqui o hediondo e absoluto horror que nutro pelo vinil desde que comecei a ouvir música. Tanto que quando saiu o CD (para mim a melhor de todas as mídias), dois anos depois doei todos os meus dois mil e varada LPs para uma instituição de caridade. Me livrei de um fardo que me perseguia. Os poucos que sobraram derreti e transformei em cinzeiro, que dei de presente aos amigos.

Como princesa Isabel, o CD me libertou da senzala. Senzala que me obrigava a ouvir música ao som de “clac, clac, clac” ou faixas que agarravam ou pulavam, agulhas que acabavam no meio da madrugada me deixando na mão, mofo, fedor. Os importados, mais pesados, eram menos problemáticos, mas muitos nacionais pareciam tampa de privada. Lembro de um disco do Nektar que simplesmente veio sem os graves. O primeiro lote chegou a ser recolhido porque deu um problema no azimute (toc, toc, toc na madeira) e a tal leva saiu bichada.

Quando comecei a trabalhar em rádio aos 16 anos de idade vi que não estava só. Os operadores de áudio odiavam o vinil porque ele “derrubava” os profissionais no ar. Faixas agarravam, ou o braço do toca discos sem mais nem menos saia voando sobre o disco causando aquele “vruuuuummm”, músicas pulavam, problemas que, em geral, causavam punições aos operadores.

Um dos programas mais importantes e sisudos da história do rádio foi o de música clássica na radio Jornal do Brasil FM. Só musicais de altíssimo nível, utilizando vinis importados tratados a pão de ló. Numa noite, um desses discos estava com uma pequena falha de fabricação e no final de um movimento agarrou. Já vivíamos a era do locutor-operador e ele tinha ido ao banheiro. O vinil fez o estrago, ficou mais de cinco minutos repetindo o mesmo trecho e, dias depois, o locutor recebeu a primeira advertência profissional de sua carreira.

Na Rádio Fluminense FM um disco durava, no máximo, 100 execuções. Depois a introdução das músicas saia com chiado porque para colocar no ponto as locutoras-operadoras tinham que rodar com a mão o início, para frente e para trás. Caos. Sem saída, inventei a expressão “reprodução a prego” para justificar o injustificável. Mais: vi locutoras colocarem moedinhas no braço do toca discos, sobrar a agulha, enfim, faziam feitiçarias para que aquela bosta tocasse direito.


E foi assim, derrubando profissionais, enchendo o meu saco que o vinil, aquele porco redondo saiu de cena (viva!) lá por 1985, dando lugar ao CD, isso sim uma mídia decente na minha modesta opinião. Desejo a todos uma ótima feira, desejo que curtam, cultuem, enfim, desejo tudo menos que me convidem.


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